quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Um ano de França






Dia 17 fez um ano que eu vim morar na França. E bem, quem mora ou já morou fora do país sabe que a vida muda muito em muito pouco tempo. Parece que faz dez anos que deixei pra trás a minha vida no Brasil.

O que mudou? Basicamente... tudo.

Em janeiro de 2013 eu era uma menina recém-formada, tinha acabado de sair do trabalho (3 anos como professora de línguas!), morando sozinha, recém-noiva do meu chéri. Tinha muitas ideias pro futuro e ao mesmo tempo nenhuma ideia: queria chegar na França, fazer mestrado, retomar a profissão (gente, sou apaixonada ♥) e ir vivendo a vida feliz como sempre.

E em janeiro de 2014, quando olho pra trás e vejo a Ana que chegou nesse país, cheia de esperanças mas completamente perdida, acho graça na vida.

Neste ano:


  • Melhorei muito o francês. Virei fluente e às vezes consigo quase esconder o meu sotaque e fingir que sou daqui. :o
 
  • Em revanche, perdi quase que completamente o alemão, e parcialmente o inglês e o português. (Gente, como que diz em português: professional ou profissional? Socorro!)

  • Casei com o homem dos meus sonhos. Justo eu, que nunca tinha sonhado (ou vontade) de casar...!
 
  • Fatalmente, como acontece com muitos expats, perdi o contato com muita gente, pessoas que considerava amigos e que hoje não fazem o mínimo esforço pra manter contato. A pessoa que eu considerava minha melhor amiga... tenho a impressão que me ignora deliberadamente. E é de cortar o coração isso de estar longe e perder pessoas que um dia foram importantes...
 
  •  Mas também muita gente que eu não imaginava ainda mantém contato, escreve de quando em vez e me deixa super feliz. (Aliás, peço desculpas públicas: eu demoro demais pra responder às vezes, ando com a cabeça nas nuvens!) É formidável perceber quem são os verdadeiros amigos, aqueles que fazem um pequeno esforço pra pensar em você e escrever alguma coisinha. Obrigada a estes. <3

  •  Tive tempo livre. Tempo livre de verdade. Eu nem lembrava como era isso.
    Bem, tive muito tempo livre. Tempo livre demais... Gente, o que a gente faz com tanto tempo? Em 2013 eu não tinha tempo nem pra dormir direito. De repente, curso de francês acaba, não achei ainda trabalho, me vejo sem nenhuma atividade, nada pra fazer. E o mais estranho, não sobrava tempo pra mim mesma.
    Mas ter tempo livre me ajudou muito a me "recuperar" dum ano que foi quase traumático. Sim, desperdicei tempo, me senti como uma adolescente que gasta o dia todo em jogos. E me fez bem.
 
  • Voltar à faculdade. Melhor coisa que aconteceu. Voltei a não ter tempo nenhum livre, mas aprendi a apreciar esse fato. E pela primeira vez senti que é muito bom estudar algo que gosta. Que delírio foi esse de querer terminar o direito? Hoje, olhando pra trás, me digo que eu poderia ter largado sim ao segundo ano, quando vira menos filosofia e mais código, e eu teria sido feliz. Mas bem, não estaria aqui hoje.
 
  • Renasci. Quase que literalmente. Senti passar por fases distintas de maturidade: infância, em que eu aprendia a me comunicar com os outros, entendê-los, ver algum sentido na vida aqui; adolescência, muitos turbilhões, mas crescimento, seguir em frente alguns projetos, sonhos, paixões. E sinto que agora está pra vir a fase adulta, mais estável, mais madura. Sinto e espero.

 É, menina... Você que aos vinte se acreditava mais madura que as pessoas da sua idade só porque você morava sozinha, trabalhava, pagava as contas. Aos 24 você se redescobre criança.

Veremos o que 2015 vai nos trazer!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Pequenas crises cotidianas

Fato é, não escrevo muito aqui no blog. Acho que ele não traduz muito bem a minha vida aqui na França, nem como eu me sinto de estar aqui.

Se alguém me pergunta "você gosta de morar aí?", a minha resposta é, bem... é complicado.

Tem momentos que eu me sinto muito feliz aqui. Estou feliz de finalmente, depois de 2 anos, poder estar junto com o Edu. Estou feliz de poder sempre visitar a família dele, que virou a minha família também. Estou feliz de ter tomado coragem pra voltar pra escola. Estou feliz, pourquoi pas, de poder ir na padaria no domingo de manhã e comer um croissant ainda quente.

Mas também tem momentos que me fazem querer sair correndo deste país, deste continente, pra procurar um bom lugar sob o sol. Quando procuro trabalho e não acho nada. Quando o sistema de vistos francês me força (sério) a ficar irregular antes de ter o meu visto e visitar a macabra sala de imigrantes da prefeitura todo mês. Quando, claro, bate a saudade. Quando o frio não me dá a mínima vontade de sair e explorar o mundo. Quando, por alguma razão, perco a vontade de sair e explorar o mundo. Quando ser expatriada cansa, e tudo o que eu quero é ser considerada não simplesmente uma brasileira, mas uma pessoa, como todas as outras. Quando simplesmente me sinto sozinha, triste e mal compreendida. (thank god pelo meu Edu, que me ajuda mais do que ele percebe)

Dia 17, vai fazer um ano que eu vim pra cá, e me considero feliz aqui. mas até que ponto essa felicidade existe porque estou aqui? Às vezes tenho a impressão que eu seria mais feliz em algum outro lugar.

Um ano, meu deus. Parece uma eternidade. Como eu mudei em um ano!

A gente respira fundo. Um passo após o outro, e a esperança de que tudo, aos poucos, melhore.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

L'hiver

Enquanto o inverno está chegando, os dias mais lúgubres do ano estão chegando ao fim.

O inverno é, em geral, a estação menos amada daqui. Eu também preciso admitir que eu prefiro as outras estações...

Para mim, o problema do inverno não é o frio (até agora, só vivi dias mais quentes que o inverno de Curitiba), mas os dias que são tão curtos e escuros: o sol nasce às 9 da manhã e se põe às 16h30. Sair de casa e voltar no breu é de desanimar qualquer um.

Além do mais, pelo menos por aqui no Norte da França, tem muito dia nublado e chuva no inverno. Vi o sol umas duas vezes em dezembro, fiquei super feliz, mas a alegria dura pouco.

Mas eles têm os seus segredos para animar esses dias tristes! O Natal nunca fez tão sentido. As decorações de Natal animam os dias noturnos e as feirinhas de natal estão cheias de gordices barraquinhas com coisas coloridas que nos alegram a vista.


A pista de patinagem custa 3,50€ por uma hora. Todos lá dentro parecem profissionais: adolescentes patinam de costas, crianças correm e brincam. patinar no gelo parece a coisa mais simples do mundo. Não é.

Feira de Natal em Roubaix num desses raros dia de sol.

Feira de Natal em Paris com Papai Noel que dá medo.

Feira de Natal (interminável!) em Paris

Já visitei umas 10 feirinhas de Natal de várias cidades diferentes. Como cada cidade tem a sua, vira pretexto pra visitar as cidades vizinhas de metrô, passear um pouco, sair do marasmo casa-escola-trabalho nestes dias frios.

Graças ao Natal, esses dias mais curtos têm o seu charme e esquentam os nossos dias. Depois que Natal, suas feirinhas e luzinhas acabarem, o solstício já passou e os dias começam a ficar mais compridos de novo. Mal posso esperar pelo verão, com sol até às 21h!

No mais, estou indo viajar amanhã com o Edu e a família aos Alpes franceses, no programa habitual deles de férias: fazer ski. Vou ver neve pela primeira vez e toda essa parafernália. Estou bem animada e, claro, morrendo de medo.

Bom Natal a todos!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Algumas impressões: vida de estudante na França



- Na maior parte das escolas primárias/ensino médio daqui, o curso é integral, de segunda a sexta das 8 às 18 horas e sábado até às 13h.

- Tem aula no sábado mas, por algum motivo que a razão humana desconhece, não tem aula na quarta-feira. Seria para contribuir aos empregos das babás? (Nota: parece que isso vai mudar. E, já faz algum tempo, várias escolas passaram a ter aulas na quarta de manhã)

- O ensino de inglês parece ser bem deficiente. (Não, o francês não te responde em francês por antipatia, mas por timidez e dificuldade com a língua da rainha) A maior parte dos meus colegas no curso mais avançado de inglês da facul tem um sotaque difícil de entender (e a única que escapa é uma menina que morou até os 10 anos no Canada).

- As notas na escola vão de 0 a 20. Na minha faculdade, as notas vão de 0 a 10 e os calouros acham bizarro. No começo do ano, eu vi várias vezes coleguinhas que convertiam a nota para entender: "Tirei 6! Isso quer dizer... hum... 12!" Então tá, né.

- A França está no Hemisfério Norte, o que significa que as aulas começam em setembro e terminam em junho. Quando o Natal vai chegando e você sabe que só vai ter duas semaninhas dá um vazio. Maaaas...

- Os franceses têm fama de adorar as férias. E não é diferente na escola: são 5 (sim, cinco) férias por ano!
  • A primeira é na Toussaint (dia de todos os santos, vulgo Halloween), de 1-2 semanas no fim de outubro.
  • Depois tem as férias de Natal de 2 semanas;
  • Em fevereiro/março, uma semana de férias de inverno (porque as férias do Natal não são no inverno... what?)
  • Em abril/maio é mais uma semaninha de "férias de primavera" ou "férias de páscoa";
  • E, por fim, as férias de verão em junho, que duram entre dois e três meses.
A cada dois meses temos férias. Muito bem pensado e feito pra que, quando os alunos começam a ficar de saco cheio, as férias vêm salvá-los.

- Por outro lado, tem bem menos feriados por aqui: são onze feriados por ano, contando tudo (Natal, Ano Novo, Segunda de Páscoa (sexta-feira santa é dia normal) etc). E nada de feriadão! Se o feriado cai na quinta, na sexta todo mundo vai pra aula e pro trabalho normalmente.
E para os trabalhadores, um "bônus": todo ano, tem um feriado (geralmente pentecostes) em que todo mundo tem que trabalhar de graça pra ajudar a previdência social.


França em agosto: clima de cidade-fantasma
- Aliás, aqui na França, TODO mundo entra de férias no verão. Todo mundo mesmo! A padaria, o açougueiro e o dono da lojinha de roupas e eletrônicos da esquina fecham as portas e saem viajar, as emissões de televisão param (colocam reprises ou programas feitos para as férias nesses dois meses), mesmo a circulação de jornais gratuitos entra em pausa, os trens e os ônibus passam em menor frequência... O que faz que a rentrée não se resuma a mães estressadas correndo atrás da lista de material escolar, mas sim um movimento épico que envolve todo o país.

- Dia de festa pra estudante universitário é a quinta-feira. Achei que não fazia o mínimo sentido ver vários colegas que não queriam esperar o fim de semana pra entrar de ressaca (e ainda que tem aula o dia inteiro e a gente tem que ficar cuidando pra que eles não despenquem)... mas o Edu enfim me esclareceu: quinta é o dia de festa porque a sexta-feira é o dia de pegar o trem pra ir passar o fim de semana com os pais. Faz sentido!

- Uma grande parte dos estudantes mora sozinho. Geralmente (dependendo da escola) não dá pra ter um trabalho ou um estágio ao mesmo tempo, mas os pais ajudam, o Estado ajuda, as bolsas ajudam. Tanto que os franceses estão entre os europeus que saem mais cedo de casa

- Nas universidades daqui, você estuda cinco anos e sai com diploma de mestrado. Tem dois tipos diferentes de mestrado, um mais teórico (geralmente nas universidades públicas) em que você tem que fazer uma monografia/tese (mémoire) e o das escolas privadas, em que você tem que fazer um enorme relatório de estágio no fim do curso.

- Neste último, geralmente há um estágio obrigatório por ano, que se faz durante as férias. Sobra mais tempo pra estudar durante o ano mas menos tempo para descansar no fim. É o curso que eu estou fazendo. Tenho medo, mas vamos ver no que vai dar.

- Minha impressão é que, mesmo com todas as férias e sem fazer estágio ao mesmo tempo, aqui se trabalha muito. Eu sei que eu trabalho muito mais do que tinha que fazer no meu curso direito no Brasil. Trabalho mais, mas me estresso menos: como muda quando a gente faz algo que realmente gosta!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Vida de acadêmica (casada)

Ah, o amor 
Daí que, pra voltar pra faculdade, precisa de coragem. Como tudo muda!

Pra começar, o modelo de escola aqui é bem pesado. Geralmente, é em período integral: os alunos começam de manhã, umas 8h, e seguem até as 18. Na minha facul, ainda dei "sorte" de não ser tão intenso assim. Nas quintas eu tenho inclusive a tarde livre! São 30 horas de estudo por semana e mais 30 horas de coisas pra fazer em casa.

Aí tem os colegas. São uns queridos e eu adoro eles tirando aquele menino loiro com atitude esnobe. Mas é engraçado como somos de universos completamente diferentes!
Sou a mais velha do curso, mas até que tem uns outros perdidos de 21-23 anos, nada muito fora do normal. Mas o que me faz merecer o título de "pessoa exótica" não é o fato que eu seja a mais velha ou a única estrangeira da sala... mas que eu seja casada.

Foi na primeira aula de inglês (gente, muito engraçado e awkward ao mesmo tempo voltar a ser aluna de inglês! Mas decidi não pular o curso porque tem sido a minha única chance de praticar de vez em quando a língua). A professora, uma escocesa muito querida, mas que tem sérios problemas de planejamento de classe, foi a única que quis saber sobre nós aluninhos, de onde viemos, o que fizemos e para onde vamos. Aí chega a minha vez de me apresentar...

— Então, Ana! Eu fiquei sabendo que você era professora de inglês antes (todos me olham com olhos arregalados, e minha resposta natural é virar um pimentão), mas me conte um pouco mais sobre você.
— Eu tenho 24 anos, morava no Brasil e fiz estudos em direito. Só que eu não gostei do meu curso, não quero trabalhar com isso e pretendo cursar animação.
— E por que a França? O que te trouxe pra cá?
— Meu marido mora aqui. 

E aí que a sala entrou em caos total, todo mundo chocado e fazendo comentários por todo canto. Enfim, depois desse episódio, fiquei sendo conhecida como a "madame", a moça casada. Porque sério, só os doidos e os velhos se casam (?).

(Nota cultural: o francês se casa cada vez menos e cada vez mais tarde. A média de idade do primeiro casamento está em 32,2 anos pros homens e 30,2 anos pras mulheres - e isso que a idade média geral do casamento está entre 34 e 37 anos. Não minto! É o segundo povo europeu que mais casa tarde, atrás apenas dos suecos)

E isso há 10 anos...

E eu em toda minha inocência de choque de culturas, acho super engraçado que eu tenha colegas que moram junto com namoradx e isso pareça normal, enquanto que ser casado é a coisa mais E.T. que existe. Sinceramente, na prática, tem alguma diferença?


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