sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

L'hiver

Enquanto o inverno está chegando, os dias mais lúgubres do ano estão chegando ao fim.

O inverno é, em geral, a estação menos amada daqui. Eu também preciso admitir que eu prefiro as outras estações...

Para mim, o problema do inverno não é o frio (até agora, só vivi dias mais quentes que o inverno de Curitiba), mas os dias que são tão curtos e escuros: o sol nasce às 9 da manhã e se põe às 16h30. Sair de casa e voltar no breu é de desanimar qualquer um.

Além do mais, pelo menos por aqui no Norte da França, tem muito dia nublado e chuva no inverno. Vi o sol umas duas vezes em dezembro, fiquei super feliz, mas a alegria dura pouco.

Mas eles têm os seus segredos para animar esses dias tristes! O Natal nunca fez tão sentido. As decorações de Natal animam os dias noturnos e as feirinhas de natal estão cheias de gordices barraquinhas com coisas coloridas que nos alegram a vista.


A pista de patinagem custa 3,50€ por uma hora. Todos lá dentro parecem profissionais: adolescentes patinam de costas, crianças correm e brincam. patinar no gelo parece a coisa mais simples do mundo. Não é.

Feira de Natal em Roubaix num desses raros dia de sol.

Feira de Natal em Paris com Papai Noel que dá medo.

Feira de Natal (interminável!) em Paris

Já visitei umas 10 feirinhas de Natal de várias cidades diferentes. Como cada cidade tem a sua, vira pretexto pra visitar as cidades vizinhas de metrô, passear um pouco, sair do marasmo casa-escola-trabalho nestes dias frios.

Graças ao Natal, esses dias mais curtos têm o seu charme e esquentam os nossos dias. Depois que Natal, suas feirinhas e luzinhas acabarem, o solstício já passou e os dias começam a ficar mais compridos de novo. Mal posso esperar pelo verão, com sol até às 21h!

No mais, estou indo viajar amanhã com o Edu e a família aos Alpes franceses, no programa habitual deles de férias: fazer ski. Vou ver neve pela primeira vez e toda essa parafernália. Estou bem animada e, claro, morrendo de medo.

Bom Natal a todos!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Algumas impressões: vida de estudante na França



- Na maior parte das escolas primárias/ensino médio daqui, o curso é integral, de segunda a sexta das 8 às 18 horas e sábado até às 13h.

- Tem aula no sábado mas, por algum motivo que a razão humana desconhece, não tem aula na quarta-feira. Seria para contribuir aos empregos das babás? (Nota: parece que isso vai mudar. E, já faz algum tempo, várias escolas passaram a ter aulas na quarta de manhã)

- O ensino de inglês parece ser bem deficiente. (Não, o francês não te responde em francês por antipatia, mas por timidez e dificuldade com a língua da rainha) A maior parte dos meus colegas no curso mais avançado de inglês da facul tem um sotaque difícil de entender (e a única que escapa é uma menina que morou até os 10 anos no Canada).

- As notas na escola vão de 0 a 20. Na minha faculdade, as notas vão de 0 a 10 e os calouros acham bizarro. No começo do ano, eu vi várias vezes coleguinhas que convertiam a nota para entender: "Tirei 6! Isso quer dizer... hum... 12!" Então tá, né.

- A França está no Hemisfério Norte, o que significa que as aulas começam em setembro e terminam em junho. Quando o Natal vai chegando e você sabe que só vai ter duas semaninhas dá um vazio. Maaaas...

- Os franceses têm fama de adorar as férias. E não é diferente na escola: são 5 (sim, cinco) férias por ano!
  • A primeira é na Toussaint (dia de todos os santos, vulgo Halloween), de 1-2 semanas no fim de outubro.
  • Depois tem as férias de Natal de 2 semanas;
  • Em fevereiro/março, uma semana de férias de inverno (porque as férias do Natal não são no inverno... what?)
  • Em abril/maio é mais uma semaninha de "férias de primavera" ou "férias de páscoa";
  • E, por fim, as férias de verão em junho, que duram entre dois e três meses.
A cada dois meses temos férias. Muito bem pensado e feito pra que, quando os alunos começam a ficar de saco cheio, as férias vêm salvá-los.

- Por outro lado, tem bem menos feriados por aqui: são onze feriados por ano, contando tudo (Natal, Ano Novo, Segunda de Páscoa (sexta-feira santa é dia normal) etc). E nada de feriadão! Se o feriado cai na quinta, na sexta todo mundo vai pra aula e pro trabalho normalmente.
E para os trabalhadores, um "bônus": todo ano, tem um feriado (geralmente pentecostes) em que todo mundo tem que trabalhar de graça pra ajudar a previdência social.


França em agosto: clima de cidade-fantasma
- Aliás, aqui na França, TODO mundo entra de férias no verão. Todo mundo mesmo! A padaria, o açougueiro e o dono da lojinha de roupas e eletrônicos da esquina fecham as portas e saem viajar, as emissões de televisão param (colocam reprises ou programas feitos para as férias nesses dois meses), mesmo a circulação de jornais gratuitos entra em pausa, os trens e os ônibus passam em menor frequência... O que faz que a rentrée não se resuma a mães estressadas correndo atrás da lista de material escolar, mas sim um movimento épico que envolve todo o país.

- Dia de festa pra estudante universitário é a quinta-feira. Achei que não fazia o mínimo sentido ver vários colegas que não queriam esperar o fim de semana pra entrar de ressaca (e ainda que tem aula o dia inteiro e a gente tem que ficar cuidando pra que eles não despenquem)... mas o Edu enfim me esclareceu: quinta é o dia de festa porque a sexta-feira é o dia de pegar o trem pra ir passar o fim de semana com os pais. Faz sentido!

- Uma grande parte dos estudantes mora sozinho. Geralmente (dependendo da escola) não dá pra ter um trabalho ou um estágio ao mesmo tempo, mas os pais ajudam, o Estado ajuda, as bolsas ajudam. Tanto que os franceses estão entre os europeus que saem mais cedo de casa

- Nas universidades daqui, você estuda cinco anos e sai com diploma de mestrado. Tem dois tipos diferentes de mestrado, um mais teórico (geralmente nas universidades públicas) em que você tem que fazer uma monografia/tese (mémoire) e o das escolas privadas, em que você tem que fazer um enorme relatório de estágio no fim do curso.

- Neste último, geralmente há um estágio obrigatório por ano, que se faz durante as férias. Sobra mais tempo pra estudar durante o ano mas menos tempo para descansar no fim. É o curso que eu estou fazendo. Tenho medo, mas vamos ver no que vai dar.

- Minha impressão é que, mesmo com todas as férias e sem fazer estágio ao mesmo tempo, aqui se trabalha muito. Eu sei que eu trabalho muito mais do que tinha que fazer no meu curso direito no Brasil. Trabalho mais, mas me estresso menos: como muda quando a gente faz algo que realmente gosta!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Vida de acadêmica (casada)

Ah, o amor 
Daí que, pra voltar pra faculdade, precisa de coragem. Como tudo muda!

Pra começar, o modelo de escola aqui é bem pesado. Geralmente, é em período integral: os alunos começam de manhã, umas 8h, e seguem até as 18. Na minha facul, ainda dei "sorte" de não ser tão intenso assim. Nas quintas eu tenho inclusive a tarde livre! São 30 horas de estudo por semana e mais 30 horas de coisas pra fazer em casa.

Aí tem os colegas. São uns queridos e eu adoro eles tirando aquele menino loiro com atitude esnobe. Mas é engraçado como somos de universos completamente diferentes!
Sou a mais velha do curso, mas até que tem uns outros perdidos de 21-23 anos, nada muito fora do normal. Mas o que me faz merecer o título de "pessoa exótica" não é o fato que eu seja a mais velha ou a única estrangeira da sala... mas que eu seja casada.

Foi na primeira aula de inglês (gente, muito engraçado e awkward ao mesmo tempo voltar a ser aluna de inglês! Mas decidi não pular o curso porque tem sido a minha única chance de praticar de vez em quando a língua). A professora, uma escocesa muito querida, mas que tem sérios problemas de planejamento de classe, foi a única que quis saber sobre nós aluninhos, de onde viemos, o que fizemos e para onde vamos. Aí chega a minha vez de me apresentar...

— Então, Ana! Eu fiquei sabendo que você era professora de inglês antes (todos me olham com olhos arregalados, e minha resposta natural é virar um pimentão), mas me conte um pouco mais sobre você.
— Eu tenho 24 anos, morava no Brasil e fiz estudos em direito. Só que eu não gostei do meu curso, não quero trabalhar com isso e pretendo cursar animação.
— E por que a França? O que te trouxe pra cá?
— Meu marido mora aqui. 

E aí que a sala entrou em caos total, todo mundo chocado e fazendo comentários por todo canto. Enfim, depois desse episódio, fiquei sendo conhecida como a "madame", a moça casada. Porque sério, só os doidos e os velhos se casam (?).

(Nota cultural: o francês se casa cada vez menos e cada vez mais tarde. A média de idade do primeiro casamento está em 32,2 anos pros homens e 30,2 anos pras mulheres - e isso que a idade média geral do casamento está entre 34 e 37 anos. Não minto! É o segundo povo europeu que mais casa tarde, atrás apenas dos suecos)

E isso há 10 anos...

E eu em toda minha inocência de choque de culturas, acho super engraçado que eu tenha colegas que moram junto com namoradx e isso pareça normal, enquanto que ser casado é a coisa mais E.T. que existe. Sinceramente, na prática, tem alguma diferença?


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Amigo secreto para expatriados

É, logo o natal chega...

Este post é para os expatriados que de param por aqui de vez em quando (especialmente para aqueles que gostam de trocar correspondências).

A Diane, expat americana de um de meus blogs preferidos (Oui in France) está organizando um amigo secreto entre expatriados do mundo. Um pouco de amor natalino para as pessoas que às vezes se sentem como um peixe fora da água é sempre bom, não é? 

Quem quiser participar pode mandar um email para ela: ouiinfrance arroba gmail ponto com, dizendo de onde vem, onde está e se tem alguma restrição alimentar. Até o dia 15 de novembro, está valendo!

Importante: como é internacional, precisa saber se comunicar em inglês.

Fica a dica pra quem quiser. Divirtam-se! ☺

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pas de nouvelles, bonnes nouvelles

É, pois é. Faz um tempinho que o blog anda abandonado.

Mas é como os franceses dizem: "pas de nouvelles, bonnes nouvelles" (não ter notícias significa boas notícias: as pessoas geralmente só ligam pra anunciar coisas ruins que aconteceram). Não sei se concordo com essa expressão um tanto pessimista, mas, apesar dos pesares, tudo vai bem neste meu canto do mundo. 

O casamento foi lindo. Bem simples, só a família mais próxima, bem do jeito que a gente queria. E não pude estar mais feliz com a presença da minha tia e do meu irmão, que atravessaram o mundo só pra me ver de branco com um sorriso de orelha a orelha.

Um mês mais tarde, o resto da família veio visitar: pai, esposa do pai, mãe da esposa do pai, irmão caçula. Foi só alegria! É realmente muito bom ter a família por perto, melhor do que a gente se dá conta.

Volta e meia me bate o mal por excelência dos expatriados: a saudade. Amigos e família, cadê vocês? Por que estão tão longe?

Mas a gente vai levando.

A gente se adapta também, a tudo. Aprende a língua (os franceses me descobrem rapidamente pelo meu sotaque, mas juram que se impressionam com o meu francês), os costumes (não esquecer de dizer "por favor, obrigado, tenha um bom dia" várias vezes para pedir um croissant), as gafes (nem comentar! Cada coisa) e vai redescobrindo aos poucos que é divertido ser diferente.

Enfim, respirei fundo, tomei coragem e decidi mergulhar fundo no meu grande sonho de adolescência: estudar animação. Voltei pra escola e estou (re)aprendendo a desenhar com pimpolhos de 17 anos. É uma alegria imensa.

Tome cuidado ao pegar o metrô em Lille:
você pode estar sendo desenhado.

Estes meses têm sido muito intensos, uma verdadeira redescoberta da vida. E aos poucos tenho aprendido a ter a coragem de segui-la, retransformá-la como eu gostaria. Tem dias que eu me sinto um literalmente um alien, um verdadeiro pária, mas tem dias que eu sinto orgulho de minha luta.

Tenho ainda muito a escrever, só tenho menos tempo. Mas não desapareci! Não sei se ainda tem alguém por aí, mas sei que eu estarei aqui.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

"Donne-moi ton zéro-six"

As coisas vão bem por aqui. O sol brilha mais a cada dia (começa a escurecer às 21h ♥), meu francês tá melhorando e eu consigo esconder o sotaque melhor. Eu engordei, mas (espero) nada que me mate. Volta e meia bate uma saudade dos amigos, da família. Tudo pronto pro casamento, daqui a doze dias (!) Parece que faz uma eternidade que eu deixei o meu país, mas bem: três meses e meio não é pouco tempo.

E bizarrices, como sempre, continuam acontecendo regularmente.

O nome da loja de produtos asiáticos é Paris Store.
Because f*ck logic.
Hoje eu estava ultra contente de ter encontrado uma loja que vende shiitake fresco, polvilho, mamão e mais de um tipo de banana (pois é, nada disso existe por aqui), numa loja especializada em produtos asiáticos perto de casa e acessível de metrô.

Eu voltava saltitando para casa quando, ao sair da estação de metrô, uma menina de rua de uns 7-8 anos sentada num canto me perguntou a hora.

- Desculpa, não tenho não.

E a menina continuou a puxar assunto enquanto eu andava: 

- Madame? Madame?

Eu respondi.

Não gosto de ignorar ninguém, não importam as circunstâncias (contanto que não pareça perigoso), só que o meu francês não me permite de reagir. A menina me seguia, falando algo sobre "ton zéro-six" e "niquer" e eu fiquei sem entender nada. Expliquei pra ela educadamente que eu não falava francês, ela perguntou se eu não entendia "niquer" e eu respondi que não. Quando saí da estação de metrô, ela disse "au revoir", me deu um leve tapinha na bunda (?!) e foi embora, e eu fiquei sem entender se ela queria comida, me roubar ou só puxar conversa.

Cheguei em casa e perguntei pro Edou o que diabo "zero-seis" e "niquer" queriam dizer.

Bem... "donne-moi ton zéro-six" (me dá o seu zero-seis) é uma expressão. Os celulares aqui na França começam pelos números "06" (os mais recentes, 07), então quer dizer, basicamente, "me dá o seu número de celular".

E niquer é uma palavra extremamente vulgar para dizer... fornicar.

Eu já vi muita coisa nesse mundo, mas nada tão perturbante quanto isso. Uma menina de 8 anos pedindo o meu número para... erhm... foder. O que deu de tão errado com o mundo?

Os reais motivos da menina são bem menos perturbantes. Aqui na França, existem crianças que se especializam na "arte" de bater carteiras (o pickpocketing, como os próprios franceses chamam). O que a menina queria era me distrair para ver se eu tinha algo de interessante no bolso - foi sem dúvidas um truque que alguém a ensinou. Não me espantaria (aliás, seria um grande alívio) de descobrir que ela nem sequer entende o significado de suas palavras. O tapinha na bunda era pra ver se eu tinha alguma coisa no bolso. (E claro que não havia: é bom evitar andar com coisas no bolso em grandes cidades)

Acho isso de uma tristeza devastadora. É comum de ver crianças sozinhas no metrô, seja brincando, pedindo por dinheiro ou simplesmente deixando o tempo passar. Crianças que provavelmente passam fome. Que poderiam estar na escola, mas a quem as escolas negam entrada. Crianças invisíveis aos olhos do Estado.

Para mim, país rico é aquele que não fecha os olhos aos seus pobres e vulneráveis. E, infelizmente, tenho dúvidas se existe um - um mísero! - país rico neste mundo...

segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma nova vida

Fonte

Faz pouco mais de dois meses que eu cheguei aqui na França. Mas a memória que tenho da vida de antes se torna cada vez mais distante... Dá a impressão que eu literalmente morri e passei para uma outra vida.

Não sei se é um lance de adaptação, mas sei que me pegou de surpresa. A minha vida antes de vir para cá estava super turbulenta: malabarismo com faculdade que eu não gostava, monografia, trabalho, namoro à distância e processo de expatriação. Eu esperava que a vida fosse mais cor-de-rosa quando tudo isso acabasse. Só que as coisas nem sempre são tão simples, não é? 

Eu esperava chegar aqui e me sentir como uma expatriada, tendo que recomeçar a vida do zero, que reaprender a viver em uma nova cultura, quebrar a cara, fazer mil gafes, até finalmente me adaptar. Parecia uma aventura empolgante, uma brasileira na terra do croissant.

Só que aí eu cheguei e percebi que não deveria ter criado expectativas. Eu cheguei e me senti estranhamente em casa. As pessoas daqui não são "franceses", e sim pessoas. A cultura não é um bicho de sete cabeças. Tudo é tão natural. O Du me disse esses dias que às vezes esquece que eu não sou francesa. Pois é, eu também.

Só que não era isso que eu esperava. Eu gostava de quem eu era, e não imaginava que eu ia me abandonar tão violentamente. Perdi a vontade de viajar e descobrir outros cantos da Europa e da França. Perdi a vontade de explorar, de descobrir coisas novas, simplesmente porque as coisas aqui não parecem novas.

E isso me tirou inclusive a vontade de escrever no blog. Pois ele é uma ligação que eu tenho com a minha vida de antes: aqui escrevo na minha língua, para a minha gente, sob os olhos da minha cultura. Só que essa língua, essa gente, essa cultura, não são mais aquelas com que convivo todos os dias. Isso me confunde.

Sinto que perdi o meu passado.

Aos poucos, estou tentando me recuperar. Acho que se sentir em casa não é algo ruim, pelo contrário. Me sinto confusa e perdida. Se algum expatriado (ou ex-expatriado) tiver conselhos, são super bem-vindos.

Pra alegrar um pouco esse post de um tom melancólico, anuncio a nova: vamos nos casar! Estamos os dois muito alegres e doidinhos com as preparações. Ah, les tourtereaux !

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Londres em fotos

Passamos o fim de semana passado em Londres e preciso dizer que saí encantada com a cidade! A cidade tem toda uma atmosfera peculiar que, por mais que eu não seja lá muito fã de grandes capitais/centros turísticos, me cativou.

E vão aí umas fotos da smoke city ("cidade fumaça" - credo, que apelido mais feio pra uma cidade!)

Metrô de Londres
Me chamem de caipira, mas eu gosto muito de tirar fotos e comparar os metrôs das diferentes cidades. E o de Londres, além de enorme, tem cadeiras super confortáveis. A gente ficou com vontade de dormir lá mesmo e não pagar hospedagem! Mas aí lembramos que o metrô para de circular à meia-noite. :(


O metrô de Londres é um dos mais antigos do mundo, e uma das maiores linhas também. Só que você não se dá conta até olhar o mapa para procurar uma estação...

WTF?

Metrô de Londres, não gostamos de você!
Tem também as famosas cabines telefônicas de Londres:

Edu fazendo bico: "por que tirar uma foto tão clichê?"

Já eu gosto de fotos clichês!
Mas não adianta, que a nossa alegria foi... descobrir a embaixada da República Dominicana na mesma rua do nosso hostel. Podia ser quase uma da manhã, mas a gente desviou do nosso caminho para encontrar a bendita. Aleatoridades à parte, quando foi que você já viu uma embaixada da República Dominicana?


Toda alegre na frente da Embaixada da República Dominicana


Falar em vermelho... olha o ônibus aí!

Ônibus vermelho típico de Londres


Acho uma tristeza que todos esses ônibus estejam cheios de anúncios publicitários em todo lado. Quanta poluição visual! E assim vemos os estragos de Tatcher ainda nos dias de hoje...

Este ônibus se recusa a ser um outdoor ambulante.
E tem também as caixas de correios, praticamente inexistentes (passei a manhã inteira segurando esses postais), mas muito bonitinhas.

Turista + Postais + Caixa de Correios vintage = ♥

Algumas coisas que encontramos em lojas de Londres...

Uma loja de sabonetes de tudo quanto é tipo!
Nesse momento, o Edu estava apontando e me dizendo "olha, um queijo chèvre!". E realmente, parecia mais um queijo que um sabonete.

"Brasils" de chocolate ao leite
Achei isso fofo: da mesma maneira que eles chamam a castanha de caju de "cashews" (cajus) e você fica perdido quando quer se referir à fruta (até porque a fruta é brasileira e eles nem sabem de sua existência), chamam a castanha do pará de "brazils". E aí você pode devorar dez brasis de uma vez só, olha que poético!

Barra de chocolate de 1 kg :o
Pirulito gigante
Seriam esses os motivos do Reino Unido ser a nação mais obesa da Europa?

E, por fim, fotos de lugares que fomos e que vale a pena visitar!

Palácio de Buckingham
A.k.a casa da rainha. Não vimos a troca da guarda, não teve naquele dia. :( Mas os guardinhas cinza ainda estavam lá, simpáticos e fazendo movimentos exageradamente teatrais. Não deixa de ser fofo.

Like a star
Saindo de lá, a gente pega essa rua:


E acaba indo parar lá:


Realmente temos que tirar o chapéu para Londres no quesito mobilidade: em uma caminhada, você conhece todo o centro e os principais lugares turísticos. Tem mapa quase em toda esquina e é difícil de se perder. A gente é tipicamente tão perdido (eu não tenho senso de direção, o Edu é pior ainda) e nos achamos tão facilmente!

Big Ben

London Eye
Para quem não conhece Curitiba, tem um carinhoso apelido que seus moradores dão a ela: "a Londres brasileira". O tempo está nublado e/ou chuvoso em 90% dos dias, e quando está bonito e faz sol, sem uma nuvem no céu, em um intervalo de 10 minutos pode começar a chover tempestades.

Eu estava espantada com a capital londrina - afinal, meu primeiro dia de sol na Europa, depois de mais de três semanas, foi em Londres! Poderia a ideia do tempo horrível de Londres ser nada mais que um mito? Mas bem, aí descobri que não e matei um pouco a saudade do tempo curitibano...

London Eye - foto tirada 9 minutos e 48 segundos depois

Claro que precisou cair chuva, né. Mas cinco minutos depois o sol já quis sair de novo.

Londres - silhueta da cidade
Eu tinha muita vontade de andar no London Eye - esse negócio é enorme, tem 135 metros e era a maior roda gigante do mundo até 2008. E daí se, dois meses atrás, eu tive uma crise de retorno de meu medo de altura? E daí se o passeio pra nós dois ia custar 60 libras? É, eu sou teimosa e bati pé que queria ir na roda gigante. Lá fomos nós.
Ana feliz - mas tremendo nas bases - na altura mais baixa do passeio
Só que a roda começou a subir... subir... minha gente, aquilo não parava de subir! Estávamos numa altura que eu considerava além dos limites humanos e não tínhamos subido nem um quarto. E descobri que, pois é, recentemente voltei a ter medo de altura... :'(

A menos de um quarto da viagem
Lá, eu ainda conseguia andar e tirar fotos, ignorando que eu já não sentia minhas pernas. E aquele negócio andava muito devagar, volta e meia parava por alguns minutos... e eu lá, em pânico, já me despedindo da minha vida, porque né? Como a gente fica dramático quando afronta nossos grandes medos.

Mamãe, me tira daqui!!
No ponto mais alto - foto, é claro, tirada pelo Edu (porque Ana nem respirar mais conseguia)
Me senti em plena catarse, só que sem revelação nenhuma. Dramas à parte, 20 minutos depois, estávamos no chão, sãos e salvos. Se eu faria de novo? Com toda a certeza.

E, por fim: algo que valeu muito a pena ver em Londres foi a parada de ano novo chinês! Primeiro que eu nunca tinha ido a uma parada antes e fiquei toda encantada. Depois que realmente é cativante.

De acordo com o horóscopo chinês, esse ano é o ano do cavalo, o que significa que há de ser um ano bom para os nascidos em 1990. E esperanças de um bom ano nunca são demais.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Inglaterra: primeiras impressões

(que fique bem claro, o que escrevo aqui são tão-somente minhas impressões! Quem conhece bem o país, fique à vontade para discordar (e aproveitar e me dizer o porquê, sou curiosa))

1. They do it their way

(eles fazem as coisas do jeito deles)

Eles não têm medo de serem excêntricos. Pois vejam bem: a Inglaterra faz parte da União Europeia, mas não quis adotar o Euro. E não esqueçam que todo mundo dirige do lado esquerdo, o que faz que pedestres continentais perdidos nunca saibam pra que lado olhar ao atravessar a rua. (sério, isso é mais complicado do que parece)

A imigração é mais chata e fechada do que no resto da Europa. O Edu me disse que há alguns anos, ele às vezes vinha à Inglaterra a trabalho, e a imigração sempre parava todos os carros e ônibus sem exceção, pergunta a razão da viagem, verifica os passaportes e os vistos. O fato de não ser europeia dificulta bastante a entrada no país.

Além do mais, por ser uma ilha, fica naturalmente isolado de todo o resto da Europa.

2. Big brother is watching you!

(O Grande Irmão está vendo você)
"Deixa eu adivinhar... você vem de Londres?"

Estima-se que há 1 câmera para cada 11 cidadãos na Inglaterra, quase 6 milhões de câmeras de vigilância no país. Irreal! Os metrôs e ônibus são todos filmados de dentro (com tvs dentro dos ônibus que mostram em vários ângulos o que está sendo filmado), em vários lugares turísticos podíamos encontrar câmeras, e mesmo dentro de restaurantes.

Agora, achei muito bizarro de descobrir que mesmo as escadas de emergência do hostel em que ficamos são vigiadas pela CCTV, o notório sistema de circuito fechado de câmeras da cidade de Londres. É o fetiche deles ser vigiado o tempo todo ou o quê?

3. Eles não sabem cozinhar

 

É certo que estou certamente mal acostumada morando na França, em que se come muito bem... mas fato é que os ingleses estão longe de ser bons cozinheiros. Tem muita coisa gostosa e diferente para comer, mas em geral as coisas são menos deliciosas do que na França. Para dizer o mínimo, os doces, o pão e o queijo são realmente menos bons.

Isso sem contar que, toda vez que a gente via uma padaria com doces que pareciam apetitosos, ia olhar para o nome e... descobria que era uma boulangerie francesa! Tudo bem que comparar doces franceses com os ingleses é apelação, mas... eu esperava encontrar ao menos uma padaria inglesa que vendesse coisas diferentes e apetitosas.

4. I see all red

(Eu vejo tudo vermelho)

Esta é específica de Londres: como a cidade é vermelha! As cabines telefônicas são vermelhinhas, as caixas de correios são vermelhinhas, os ônibus são vermelhinhos. Devo dizer que realmente torna a cidade muito adorável, e é uma solução muito boa para tornar uma cidade turística: transformar tudo em vermelho.

Overdose de vermelho

5. Rivalidade com os franceses

 

Parece um tipo de esporte nacional deles: detestar tudo que os lembre da França.

Os ingleses e franceses têm uma rivalidade não diferente da dos brasileiros e argentinos. Só que eles têm muito mais histórias de guerras e conflitos que nós jamais tivemos.

No mais, posso dizer que gostei muito do pouco que conheci da Inglaterra... mas, obviamente, a França é muito melhor. ☺

Londres de ônibus!

Não vou mentir: minha adaptação ao meu novo país não tem sido fácil. Nada de grave, simplesmente mudanças tão grandes podem levar um tempo para se habituar. Volta e meia esqueço que não estou no Brasil, que aqui sou estrangeira e que nem sempre consigo entender ou me fazer entender aos franceses.

Aí me surgiu essa vontade enorme e inexplicável de conhecer a Inglaterra e fugir por um fim de semana para Londres. Depois acabei percebendo que é provavelmente por conta da minha dificuldade com o francês: eu tinha vontade de fugir um pouco e ir para um lugar onde eu pudesse me sentir mais à vontade com a língua. 

Londres fica super perto de Lille: de trem, em 1h20 se chega lá. O problema é que eu esqueci que eu sou uma estudante desempregada e pobre, e os trens para Londres custam muito caro. Fica 100 euros por pessoa só a ida, o que faria as passagens de ida e volta pra nós dois 400 euros! Haja budget para isso...

E aí decidimos ir de ônibus, com um preço muito mais modesto de 39 euros que compensa uma viagem de quase 6 horas.

Mas gente, a distância de Londres e Lille é 250 quilômetros... por que 6 horas de viagem?!

E aí descobrimos que a viagem à Inglaterra da França é cheia de melindres:

  • Primeiro, tem o controle aduaneiro francês, que nos fez sair com todas as nossas malas para verificar o que estamos levando embora do país (hein? A alfândega não é para verificar o que entra no país? Esses franceses são meio doidos...).
  •  Segundo, tem a imigração inglesa. Eles são bem chatinhos com isso, fizeram todo mundo sair, dizer por que está vindo no país, quanto tempo vai ficar... e, como eu não sou europeia, me fizeram preencher um formulário e carimbaram meu passaporte.
    (Às vezes eu esqueço que na Europa não é um único país, e que eles podem ser tão chatos e rigorosos quanto quiserem para nos deixar entrar em um outro país. Quanto fomos à Bélgica, não teve controle nenhum)
  • Terceiro, a gente tem que pegar um trem subterrâneo para passar o Canal da Mancha. Aí tem o problema de a imigração/aduaneira levar mais tempo que o esperado, eventualmente perder o trem e ter que esperar o próximo. (Na volta, fizemos uma "pausa" de 50 minutos para esperar o próximo trem!) 
Eurotunnel
A gente pega o trem de ônibus: ele entra no trem e a gente passa 45 minutos de viagem lá, atravessando o mar por baixo da terra. Até que é divertido.

Explorando o trem de dentro
O engraçado é que, por conta de todas essas paradas e descidas do ônibus, a viagem parece até que curta. Isso sem contar que o ônibus francês por dentro parece mais com um avião do que com um ônibus brasileiro! Tá, não vamos exagerar, mas ainda assim: tem mais espaço entre os bancos, mesinha atrás do banco, estilo "mesinha de avião", tomada e wi-fi (em teoria, já que pra gente não funcionou), e uma tela que mostra o trajeto e a a viagem filmada da frente do ônibus.

Resumindo: viajar de ônibus por aqui compensa sim, é muito mais barato e bem confortável, apesar de levar mais tempo.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O "golpe" das maquininhas do metrô

Do transporte público de Lille eu não tenho do que reclamar.

Primeiro, ele é super bem integrado: com um cartão, temos acesso a metrô, ônibus, tram, bicicleta, trem regional e aluguel/estacionamento de carro, em toda a região Nord-Pas-de-Calais. 
O cartão "Pass Pass"

Segundo, é super acessível. Para quem tem até 25 anos, o acesso ilimitado a metrô, ônibus e tramway custa 28 euros por mês. O preço para os mais velhos fica em 45,50€. Fica ainda mais barato com assinatura de um ano.

Terceiro, nada de catracas. Acho lindo isso, não gosto de catracas. Aqui, eles simplesmente confiam que você pagou pelo uso que está fazendo do transporte público.

Integração do transporte em Lille
Mas tem um grande problema: ter que usar maquininhas para comprar os bilhetes.

Para quem não sabe, na França (acho que na Europa em geral), praticamente tudo é vendido por máquinas, não por pessoas. Quer comprar um bilhete de metrô? Maquininha. Validar o bilhete de trem? Maquininha. Comprar selos e enviar cartas? Maquininha. No supermercado, pesar as frutas? A maquininha o fará. Há inclusive caixas de supermercado que já são completamente automatizados, a gente passa todos os produtos sozinho.

Bom, no sábado, um dia depois que cheguei, lá fui eu recarregar meu cartão pass pass... o Edu queria me mostrar como o troço funcionava e falou pra eu colocar uma nota de 50 euros lá, a maquininha dava troco e tudo. Só que aí, eu coloquei a nota lá...

Cancelado. Cancelado. Cancelado. Tela inicial.

Ela engoliu minha nota e fingiu que nada tinha acontecido, minha gente! Alguns chiliques mais tarde, nos demos conta que esquecemos o celular, passamos em casa para ligar para a Transpole (companhia de transporte de Lille) e voltamos para a cena do crime. E bem, de acordo com eles, não é que era um crime mesmo?

Eles disseram que isso já aconteceu antes: alguém* coloca um pedaço de papel no lugar em que as pessoas colocam o dinheiro, o que causa a máquina a dar tilt quando alguém a usa. Teoricamente, a máquina ejeta a nota por um outro buraco logo embaixo, impossível de se enxergar para nós, meros mortais distraídos. Aí a vítima vai embora e o alguém recupera o dinheiro do pobre trouxa que saiu para buscar o celular em casa.

* Na verdade, eles não disseram "alguém", e sim "um rom" (os rom são pessoas que vêm da Romênia, geralmente ciganos e pobres). Gente, é sério que eles são xenófobos assim?! Simplesmente assumir que quem é criminoso vem de fora... fiquei em choque!

Então, o que fazer? Pensei que eles podiam simplesmente abrir a máquina para ver se ela, na verdade, não tinha só dado um pane e comido a minha nota. Mas não, isso no sistema francês parece não ser possível. Me mandaram ir na delegacia de polícia, fazer um B.O, mandar o B.O para eles por e-mail (ufa, pelo menos não é por correio) e esperar que o serviço ao cliente nos reembolse. O resultado disso tudo é que, quase três semanas mais tarde, ainda não vi cor da minha nota.

Bem, fim de história: hoje, voltando para casa, vi um monte de gente aglomerada na frente da maquininha, alguém a desmontando e tentando entender o que estava acontecendo. É, pelo jeito, ela fez mais vítimas... e duvido muito que tenha sido culpa de um "alguém". Mas bem, fazer o quê, se os franceses são têtus?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Frio? Que frio?

Enfim, depois de ter chegado há uma semana - e a internet ter se recusado a funcionar desde então - escrevo para dizer que sim, cheguei bem e estou viva, feliz e bem, obrigada.

Eu cheguei no dia 17 de janeiro, completamente aterrorizada com a ideia de chegar em pleno inverno europeu. Eu, pobre ser caipira que nunca viu neve na vida, me imaginava brincando com esquimós e construindo um iglu pra morar, se não morresse congelada até conseguir comprar alguma roupa pra frio.

Mas que nada! Que alívio foi chegar aqui e descobrir que o inverno francês deste ano está menos frio que o inverno curitibano do ano passado. E, com aquecimento em casa, realmente não há do que reclamar. Vejo os franceses desfilando com casacões gigantes no frio de 10 graus e acho fofo.

O que eu esperava encontrar:



O que eu encontrei:




A temperatura varia de 2 a 10 graus. Acho que a única coisa que eu estranho são as árvores todas parecerem que morreram, coitadinhas. Ah, sim, e que às 6 da tarde estamos no mais completo breu. É meio triste anoitecer tão cedo, mas realmente, o inverno está bem mais tranquilo do que eu esperava.

E hoje o clima fez um pequeno tributo a Curitiba, com as suas mudanças bruscas de humor: sol e "calor" de 8 graus pela manhã, e duas horas depois, tudo escuro, frio e chovendo.

Acho que não vou ter problemas pra me acostumar com a França não...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dezesseis

Não foi à toa o hiato.

Muita coisa aconteceu durante esses últimos meses, muita coisa mesmo. E, quando tudo muda assim, não nos resta senão o silêncio.

Mas o que importa é que, no próximo dia 16 - não mais que sete dias! - embarco definitivamente para a terra do croissant. Assim mesmo, sem perspectiva de voltar, sem a mínima ideia de como minha vida estará em seis meses. Assim mesmo.

Bye bye, Brasil! (Mas não adianta, a última ficha ainda não caiu...)
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