segunda-feira, 29 de julho de 2013

Escondendo o ouro

Acho absolutamente hilário como as pessoas reagem quando eu digo que meu namorado é francês.

Aconteceu hoje, com um colega do estágio da faculdade:

- (falando de um trabalho) Então, você quer que a gente faça isso quando?
- Ih, vai ter que ser depois de setembro, que tô indo viajar.
- Ah, vai pra onde?
- França.
- (super sorriso) Nossa, que chique!
- (meio "desempolgada", meio sem jeito) É...

(eu nunca fui muito do tipo "vou pra Europa nas férias mostrar o quanto sou cult para todos os meus amigos")

My precious
- Vai fazer o que na França?
- Visitar o namorado...
- :o Ele mora lá?
- É...
- :O Faz o que lá?
- Ah, ele trabalha...
- :OOO Trabalha?!
- É, meio que estuda também... (aí me atrapalhei) Ah, é que ele é francês...
- :OOOOOOO

Aí ele riu e disse: "Ahhh, Anita! Escondendo o ouro!"

As pessoas sempre acham o máximo o fato de eu namorar um francês. Eu acho um pouco de graça nessas reações. O meu namoro é como qualquer outro, só que mais complexo, por conta da distância, de barreiras linguísticas e, por vezes, de divergências culturais. Não vejo nada de nossa-que-super-legal nisso. É só diferente. 


Mas, claro, sou super feliz com o meu namoro, e eu sempre soube que seria um desafio. Escolhi namorar na dificuldade hard e só resta encarar isso de uma maneira positiva. A gente sabe (ao menos imagina) que a recompensa seja à altura: um dia essa distância acaba.

No mais, faltam 4 dias pra grande viagem. ♥

domingo, 21 de julho de 2013

E o francês?

(continuação de meu post sobre línguas)




O francês (o idioma, deixo claro) sempre me pareceu muito dramático. Mas não um drama entusiasta, não: é que o francês a-do-ra negações. Apaixonado, mesmo. Chega a dar medo.

A começar pela própria maneira deles dizerem "não". Se você quer dizer não, normalmente vai usar duas palavras: "ne" e "pas". Então você sempre diz: (pronúncia em vermelho)

Je sais.
/jã sê/
(eu sei)

Je ne sais pas.
/jã nã sê pá/
(eu não sei)

Por que isso? Vem de uma expressão latina: "nec....passum". Quer dizer, literalmente: "nem...um passo". Era tipo o "de jeito nenhum" deles.

O francês diz então "eu não sei de jeito nenhum" ou "eu não tenho um carro de jeito nenhum" assim, como se fosse a coisa mais natural do mundo. "Je ne sais", para eles, está errado -- se bem que, na língua falada, eles podem muito bem dizer "je sais pas". Vai entender.

Aí, se eles quiserem dizer que algo está bom, vão dizer:

Pas mal !
/pá mal/

É um "nada mal", mas quer mais dizer "muito bem" do que "nada mal". É por essas e outras que fica a fama (injusta, ao que parece) de que o francês é frio. Ele só não sabe ser entusiasta sem negar.

E aí surgem bizarrices do tipo:

Je suis pas mal fatigué.
/jã suí pá mal fatiguê/
(eu estou nada mal cansado)

Que, por analogia, quer dizer "eu estou não pouco cansado", ou seja: "que estou bastante cansado". Deduzir essa lógica, ainda mais quando pronunciada com espontaneidade espantosa, deve matar metade dos seus neurônios. 

Outra coisa que me quebra a cabeça é que eles também usam a negação para falar "somente": aí usam o "ne....que".

Elle ne veut que chanter.
/él nã vã kã chôntê/
(ela só quer cantar)

Outra coisa interessante é que algumas palavras negativas, como "nada" (rien) ou o "ninguém" (personne) também funcionam como negações, no lugar de "pas". Aí, aquilo que no português é redundante - por exemplo: "eu não quero nada" -, para eles não passa de substituição.

Je ne veux rien.
/jã nã vã riã/
(eu não quero nada)

Só que, se aí você acrescenta o "pas", aí você quer negar a negação, ou seja, afirmá-la. "Je ne veux pas rien" quer dizer "eu não não quero nada", ou seja: "eu quero alguma coisa". Bravo !

A língua francesa tem muitas peculiaridades interessantes. Não foi amor à primeira vista, mas fui pegando gosto de um jeito que me apaixonei. Ainda volto a falar dela.

(A título de curiosidade: com o meu menino eu falo inglês -- mas, aos fins de semana, por iniciativa minha, a gente passou a usar o francês. No começo, eu não conseguia fazer uma frase sem tradutor, não sabia nem conjugar, era uma verdadeira assassina da língua. Hoje eu consigo ler artigos e quase entendo letras de músicas! Até que eu me orgulho do meu progresso, pra quem aprendeu praticamente sozinha. Que fique a lição, crianças: persistência é a chave.)

Línguas

Que imagem mais bizarra. Amei.
Um dos meus grandes interesses é aprender novas línguas. É inclusive um hobby meu, uma coisa que eu gosto de fazer quando tenho tempo livre. É, eu sei, sou esquisita.

Mas a verdade é, quanto mais línguas aprendemos, mais descobrimos sobre o mundo, mais expandimos nossos horizontes, mais aprendemos sobre nossa língua e, inclusive, sobre nós mesmos.

Uma vez eu li uma citação que me marcou:
"Quem aprende uma nova língua adquire uma alma nova."
-- Juan Ramón Jiménez

Uma coisa muito fascinante é como elas podem ter uma lógica tão diferentes e, ainda assim, conseguir expressar perfeitamente todas as angústias, anseios, alegrias e desconsolos da alma humana. Ou, ainda, como a língua influencia (ou é influenciada) pela cultura de um povo. Ela é crucial para se compreender uma cultura.

O inglês (quem conhece, sabe) gosta de ser direto e expressar claramente suas ideias -- ao contrário do português, que é muito cerimonioso, dá mil voltas e, como todas as línguas romanas, gosta de ser romântico e de destacar as nuances de milhões de quase-sinônimos semelhantes entre si.

O alemão (meu xodó, adoro essa língua), apesar de complexo, é extremamente lógico: até as irregularidades têm a sua lógica. Já no russo, eles praticamente não usam o verbo ser. Fica meio troglodita, mesmo.
"Privet! A mim chame Anna. Eu professora língua inglesa. Eu do Brasil."
(tradução literal. Sim, eles falam assim.)
(Tudo bem que eles têm milhões de declinações que compensam o fato deles não usarem o verbo ser. Mas não deixa de me divertir.)

Tudo isso só pra falar da língua francesa. Mas a introdução do post ficou muito grande, então vou continuá-lo aqui. Verbose rules.


(Só a título de curiosidade: as línguas que falo bem são o português e o inglês; falo o francês e o alemão com um grau razoável de fluência e arranho o básico do japonês, do russo e do dinamarquês. Ainda quero, num futuro distante (depois de ter fluência em todas essas línguas), aprender um pouco do grego, o swahili e ao menos o alfabeto hebreu. Sou apaixonada por etimologia, então volta e meia também me pego aprendendo o português. Mas é só um hobby, mesmo.)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

15 dias



Na verdade, eu sequer conheço a França. Mas em 15 dias isso muda.

Pela primeira vez em três anos, vou ter férias! Tanto da universidade quanto do meu trabalho. Vão ser 21 dias de brincar de viver um pouco a liberdade.

Comprei as minhas passagens em dezembro de 2012. Gente, naquela época, parecia um futuro inalcançável. Aí eu recebi a visita do meu menino. Tudo lindo, maravilhoso, tudo foram flores. Ele saiu do Brasil super encantado e já me avisou que o país dele não tem tanta graça quanto o meu. Bem, a gente releva, né?

Ele foi embora e começou a contagem regressiva para revê-lo, conhecer a sua família e seu país. Foram 4 meses que pareciam uma eternidade. Mas, de repente, eis que os 4 meses se tornam dois. Aí os 2 se tornam 1. E agora faltam 15 dias.

Segundo os franceses, 15 dias = 2 semanas. Vai lá entender a lógica deles, mas eu até que gosto da ideia. Duas semanas e eu vou conhecer essa terra que tanto me gera expectativas, anseios e medos! Caramba, nem sei o que pensar.

Dentro de 2 semanas, 1 dia, 17 horas, 53 minutos e 57 segundos,
meu coração vai provavelmente estar a ponto de virar geleia. Que saudade.

"Oi, sou um Euro disfarçado."
Hoje fui comprar os meus Euros. Foi um momento de inesperada emoção. Suspirei ao ver aquelas notas (tão iguaizinhas às nossas novas, por sinal. Eu gostava mais das antigas. Precisamos parar de querer plagiar a Europa a todo tempo: cadê a nossa identidade?). Foi um sentimento engraçado, como se eu tivesse recebido um atestado de "pois é, tá chegando".


(Poxa, que atestado mais caro! E pensar que há um ano o Euro estava 70 centavos mais barato. Mas nem ligo, estou ultra feliz.)


Bem, vamos lá. A contagem continua e eu começo a arrumar as malas.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Fronteiras

E aí você pensa: eu o amo, então eu vou poder ficar com ele.
Mas claro! Eu tenho laços afetivos com alguém que mora lá, portanto, no meu caso, a minha entrada e estadia devem ser facilitadas. Certo?

Errado.

No ring, no stay
Primeiro que o nosso relacionamento não conta em nada se não estiver oficializado no papel. Fail.
(E tem que ser casamento, mesmo - pacto de união estável ou cartinha com juras de amor eterno não servem.)

Claro que há outras alternativas para se conseguir um visto.

A que mais me interessa, por ora, é a possibilidade de estudar lá, fazer um mestrado. Mas a burocracia, a papelada e o dinheiro que isso exige são assustadores: parece que até atestado de óbito do cachorrinho que morreu na oitava série eles exigem - claro, com a caríssima tradução juramentada. E preciso passar por tudo isso sem nenhuma garantia de que o processo vá dar certo e de que a universidade vá me querer. É muito amor.

E aí há as outras alternativas, do tipo encontrar um emprego lá (muito fácil, achar alguma empresa francesa que queira arcar com todas essas despesas) ou ser filho de franceses. Ah, verdade, posso ser uma pessoa que fez uma contribuição substancial pra humanidade e que, portanto, a França vá querer convidar pra morar lá. Quantas alternativas!

Sinceramente, França, por que você não gosta de mim?

(Só um desabafo...)

sábado, 13 de julho de 2013

Début

A história é simples. E, como (quase) toda história simples, vira complicada por começar com a notória frase:

Eu me apaixonei.

E, vejam só, agora aqui estou eu, buscando infindavelmente meios de me aproximar de meu menino.

Junte-se a isso minha vontade de viver em outras bandas e... voilà. Eis que começa a minha jornada rumo a terras francesas.

Bon courage, Nanou

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